Centro tem fachadas revitalizadas

Embora possa sair caro, especialista garante que o retorno do investimento feito em comércios é certo

Postado em: 20-10-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Embora possa sair caro, especialista garante que o retorno do investimento feito em comércios é certo

Thiago Costa

O Centro de Goiânia é conhecido pelo excesso de sons e gigantescas fachadas publicitárias colocadas para chamar a atenção do consumidor e cobrir um passado muitas vezes caro de ser restaurado, que são as belas e antigas construções em Art Déco.  Alguns comércios ainda resistem às atuais maneiras de destacar seus comércios e preservam a história da Capital, se destacando de forma consciente em relação aos demais.

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O agitador cultural Heitor Vilela é proprietário da Casa Liberté, um bar que aposta na Art Déco no Centro de Goiânia entende sobre a importância da preservação desse tipo de arte na Capital do Estado. Heitor se preocupou em não deixar esse assunto como sendo somente de responsabilidade do poder e do espaço público. “Como consumidor de cultura e produtor, eu senti essa falta, tanto vinda da população como de artistas que tinham a necessidade de vivenciar o Centro da cidade”, conta Heitor.

De acordo com ele, a casa, que atualmente é um comércio, estava fechada há quatro anos, e enquanto empresário procurava o local para montar seu comércio, enxergou na casa antiga a oportunidade de criar um novo centro cultural de lazer. Heitor sente que a vizinhança encarou como algo positivo a casa ser aberta ao público, porque antes o local era cheio de mato alto e existia o risco de doenças como a Dengue ganhar proporções maiores. “O lugar abandonado não é legal para ninguém. Eu reformar, além de valorizar o centro, é uma opção para as pessoas virem aqui como consumidores”, finaliza o empresário.

“Um ambiente que respeite a arquitetura pode ser muito mais atrativo e interessante para o consumidor  do que um comércio que coloque um banner de plástico e não respeite essa característica histórica do prédio”, afirma o proprietário do Liberté.

De acordo com a arquiteta Adriana Mikulaschek membro Conselho De Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU), a função do órgão é basicamente regular o exercício da arquitetura, mas que os profissionais estendem o olhar para toda a cidade de Goiânia, principalmente para o setor Central. O CAU é responsável por consultorias e fiscalização dos projetos e patrimônios da cidade, que precisam ser mantidos como no projeto original.

A arquiteta destaca ainda o projeto Cara Limpa, buscou trazer de volta essas fachadas originais e revitalizar o Centro da Capital, numa tentativa de preservar a memória que está sendo perdida, de uma forma que os comerciantes não precisem tapar as edificações históricas.

Para a profissional, os comerciantes que optem por manter a tradição, na verdade um investimento que pode ser inicialmente caro, mas que, a longo prazo, se torna barato por conta da clientela que buscará esse tipo de comércio que é diferenciado.  “A longo prazo isso gera renda para o proprietário.  Por outro lado, existe a memória da cidade que é resgatada, o que é super importante para todos.

Outro ponto levantado pela arquiteta é que o excesso de publicidade nas fachadas das lojas do Centro gera uma irritabilidade no consumidor e usuário da cidade e denigre o comércio. “Se todos mantivessem um padrão e se pudéssemos restabelecer as fachadas originais, mais consumidores movimentariam o comércio por ele se tornar mais agradável”, finaliza Adriana Mikulaschek

Na rua 4 do setor Central de Goiânia, há na esquina um edifício totalmente reformado com fidelidade à época e como foi levantado o prédio, em 1945. O presidente de um grupo de farmácias de manipulação, Evandro Tokarski, diz que o maior motivo que o levou reformar para manter a fachada do ponto comercial foi o contexto histórico da Capital. “Mesmo não sendo natural de Goiás, sempre admirei a riqueza da arquitetura em Art Déco. Algo bonito e de baixo custo. A nossa loja da rua 4 no Centro era toda coberta com uma fachada enorme. Perguntei à minha equipe o que tinha por trás das fachadas e o meu funcionário tirou algumas fotos, que revelaram a riqueza de detalhes atrás daquelas publicidades”, destaca o presidente do grupo.

A empresa contratou, então, uma arquiteta que fez uma análise completa e deu ao responsável pela reforma um relatório de como eram as construções da época.  A reforma pendurou por seis a oito meses para ser totalmente concluída e tudo foi feito sem apoio do poder público e com o total incentivo somente por conta da iniciativa privada.

“A maior dificuldade foi localizar elementos, pois o dono não tinha fotografias. Conseguimos resgatar com a arquiteta contratada o que existia no local em 1945. Eu quis devolver aos goianos esse patrimônio histórico. Tivemos dificuldades em achar os profissionais que fossem qualificados para restaurar tal como estava”, afirma Evandro. 

Novos projetos arquitetônicos são todos analisados  

Promover o resgate da identidade visual do Centro Histórico de Goiânia e de Campinas. Esse é o objetivo do projeto apresentado por técnicos da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh). Pensado como um processo de despoluição visual das duas regiões, o projeto tem por objetivo promover a valorização da paisagem histórica do centro de Goiânia, estipulando regras para a implantação e utilização de identidades visuais e materiais de propaganda na região.

Em junho deste ano, a Prefeitura de Goiânia, Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg) e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de Goiás (Crea) voltaram a discutir sobre o resgate da identidade visual do Centro de Goiânia. O projeto que teve início em 2015 é da Secretaria de Planejamento e Habitação  e tenta limitar novos modelos de identidade visual e materiais de propaganda nas partes que são consideradas históricas do município.

De acordo com os técnicos da  Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh), a proposta apresentada tem por objetivo promover o ordenamento dos Engenhos Publicitários – que são equipamentos de divulgação e identificação dos empreendimentos, no próprio local onde a atividade é exercida – , valorizando o ambiente natural e construído da cidade, preservando o patrimônio e a memória cultural e histórica da cidade.

Tamanhos de publicidades com base nos tamanhos dos lotes e altura do comércio, de acordo com o projeto, seriam estabelecidos para fixação das fachadas em pontos da Capital. A prefeitura, inclusive, poderia dar aos proprietários incentivos fiscais, como a diminuição da taxa de IPTU do comércio. É necessária a aceitação, tanto dos comerciantes, quanto dos moradores da região. Ver como o projeto será aceito pela comunidade é muito importante.

A arquiteta Adriana Mikulaschek compara esses locais históricos como uma criança adotada, em seu momento de vida adulta, procurasse seus pais biológicos para reviver sua memória ao sentir necessidade de descobrir a própria identificação.  Ainda de acordo com a profissional da arquitetura, o projeto só é caro quando tem no local algum elemento que precise ser totalmente reparado como no modelo original, o que precisa de técnicos que sejam especializados no assunto. 

Para os jovens, a arquiteta informa que a história do local que é para diversão se torna algo atrativo. Saber como era a cidade antes, como era o clima e o ambiente que é criado são iniciativas louváveis por parte desses comerciantes. “É muito bom ver que os comerciantes têm esse entendimento e de alguma forma a prefeitura e o poder público deveria ter subsídios para que esses projetos fossem incentivados”, reassalta Adriana Mikulaschek. 

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