Goiânia deve ter mais verde e menos vazios urbanos

Especialistas reforçam a importância da gestão e no planejamento dos serviços públicos e arborização. - Foto: Reprodução

Postado em: 24-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Goiânia deve ter mais verde e menos vazios urbanos
Especialistas reforçam a importância da gestão e no planejamento dos serviços públicos e arborização. - Foto: Reprodução

Eduardo Marques

Ao completar 87 anos, é consenso entre os especialistas em urbanismo, arquitetura e mercado imobiliário, que a tendência do futuro para Goiânia é incluir no cenário urbano conceitos que priorizem o contato com a natureza em busca dos diversos benefícios dessa relação. Bem como a ocupação de vazios sanitários para frear a expansão desordenada. 

Um estudo publicado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), por exemplo, examinou as temperaturas internas de parques da cidade e mostrou que a variação pode chegar a 5% com relação ao ambiente externo, além de uma melhoria notável na umidade e qualidade do ar, principalmente naqueles que possuem lagos e esses benefícios são sentidos no entorno das áreas. 

Continua após a publicidade

Segundo a conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU/GO) Regina Maria de Faria Amaral Brito, a Capital se tornará mais saudável na medida em que diminuir a expansão urbana, ocupação dos vazios urbanos e a melhor utilização das habitações subutilizadas. “Isso traria menor custo para a população e ao mesmo tempo um maior abastecimento de infraestrutura como de equipamentos comunitários. Então isso seria saudável para cidade”, diz

Tendência de parques 

Ela defende que haja maior drenagem urbana e a melhor utilização das áreas do meio ambiente que devem ser preservadas. “Existe uma tendência que é bem-vinda de utilização dos parques de uma forma trazer a população de sua utilização e as áreas de preservação, pegando o exemplo dos parques Vaca Brava e Flamboyant”. 

Para a arquiteta, houve um erro, porque permitiu o adensamento vertical intenso ao longo desses parques. “Observa-se que no Parque Flamboyant o sombreamento acaba comprometendo as áreas verdes. O ideal é que se tenha uma faixa de transição de pelo menos uns 300 metros entre o limite da área de preservação e o início da área de construção”, conta. 

Mais ciclovias

Outra solução, de acordo com Regina, é criar uma estrutura de mobilidade, através de ciclovias e para o pedestre. “A cidade ideal era que diminuísse a utilização do uso do transporte individual e que pudéssemos ter um transporte coletivo de qualidade. Ao mesmo tempo, medidas que visam a preservação da qualidade de vida das pessoas. Que elas possam ter ambiente de trabalho próximo onde elas moram para evitar também o transporte excessivo”. 

Apesar de todo esse planejamento urbano, para a arquiteta, Goiânia precisa de mais arborização. Ela pontua que os planos diretores ao longo do tempo diminuíram a exigência da área de permeabilidade. “Isso contraria todo diagnóstico de uma possibilidade maior de drenagem em que precisamos, visto que precisamos de infiltração do solo, através de árvores e ao mesmo tempo permitir sombreamento como uma forma de amenizar o calor excessivo. Observa que o Plano Diretor precisa ter isso em mente. É essencial ao município e plantio de árvores”, defende, 

De acordo com a professora/arquiteta doutora Anamaria Diniz Batista, Goiânia está na ‘UTI’. “Ou cuidam bem da capital ou ela estará no processo de morte no quesito de qualidade de vida”, diz. Para justificar o argumento, a arquiteta contou sua experiência de vida de quando mudou do Rio de Janeiro para Goiânia com o objetivo de almejar qualidade de vida, no entanto percebe que a capital goiana perdeu ao longo dos anos.

“Saí do Rio Janeiro porque estava começando o processo de violência urbana e cheguei em Goiânia, era fantástico. Aqui poderia circular com segurança, não tinha trânsito e nesses 30 anos a cidade adoeceu e hoje está na UTI, com todos os absurdos que fizeram com ela, como crescimento desordenado”, diz.

Ela é pessimista em relação à saúde ambiental da capital. “Para o novo gestor de Goiânia, ele vai encontrar a cidade na UTI. Há dois meses, ainda com obras inacabadas, víamos engarrafamentos. Embora elas trarão benefícios à população, mas não é o bastante porque não priorizou o término das obras do transporte coletivo”, explica. 

Já em relação a arborização da capital, ela é otimista. Para a doutora, só o fato de não destruir o que já tem é um ‘grande passo’. “Nos últimos anos o que vimos foi um desastre. Vimos o corte de árvores no eixo da Avenida Goiás e outras regiões. Defendo que isso precisa ser um plano maior, não só de conscientização, não só do poder público, mas da população”, defende. 

Especialistas apontam os desafios da urbanização 

O ex-interventor de Goiás Pedro Ludovico Teixeira planejou Goiânia para 50 mil habitantes e hoje em 2020, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela conta com cerca 1,5 milhão. Ao longo dos anos, vieram diversos problemas urbanos e ambientais. 

A professora doutora Adriana Mara Vaz de Oliveira da UFG aponta que Goiânia tem muitos desafios pela frente, a começar por dotar a cidade de estrutura (física, educacional, etc) para todos os seus moradores, não para poucos. 

A professora doutora Anamaria Diniz acredita que os desafios são perceber os erros já cometidos ao longo dos anos. “Essa urbanização desenfreada, sem planejamento, a canalização dos córregos, a construção de viadutos. Tudo isso está na contramão do que tem sido feito em urbanismo lá fora, mesmo em grandes capitais. O que estamos fazendo em quanto urbanismo que repensa os erros é a demolição dos viadutos é a não canalização dos córregos, enfim”. 

Para a Conselheira do CAU/GO, Maria de Faria,Goiânia já vive o desafio da aprovação da atualização do Plano Diretor de 2007. “Na realidade já se passaram mais de 10 anos, conforme exige o Estatuto da cidade, e esse plano está sendo bastante discutido na Câmara Municipal e observamos que muitas questões estão sendo pontuadas agora. Na esfera do Legislativo são extremamente preocupantes”, diz. 

A professora Adriana Mara defende que não houve erros e nem acertos quanto ao planejamento inicial da capital goiana. “Não existem erros e acertos. O plano de Goiânia foi proposto num momento histórico específico e a projeção era cabível àquele momento. O tempo passa e o desenvolvimento da região impulsionou o crescimento populacional da cidade. Goiânia torna-se, há muito, um pólo de atração regional.”

Regina relembra que a capital teve diversos planos diretores ao longo desses 87 anos de história e por conta disso ela sempre passou por dinamismo. “Já em 1938 o plano original foi alterado. Apesar de ter sido planejada e ter diversos planos diretores, a expansão urbana sempre foi muito superior do que a necessidade, criando esses desafios que oneraram a infraestrutura, saneamento, água, transporte coletivo, criando parcelamento segregados e onerosos”. 

De acordo com a arquiteta Regina, embora a capital tivesse planos diretores ao longo da existência, a iniciativa privada influenciou no ordenamento urbano. “Observa que apesar de Goiânia ser marcada por planos diretores, nós sabemos que a políticas públicas sempre tiveram uma grande ação da iniciativa privada e que visavam basicamente o lucro e de certa forma direcionava a ocupação”. (Especial para O Hoje)

 

Veja Também