Supermercados registram queda no volume de vendas

Pesquisa mostra retração de 8% no volume de venda na comparação entre março e agosto deste ano | Foto: Wesley Costa

Postado em: 14-11-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Pesquisa mostra retração de 8% no volume de venda na comparação entre março e agosto deste ano | Foto: Wesley Costa

Eduardo Marques

Estudo apresentado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostra que em março de 2020 o volume real de vendas do varejo no segmento de supermercados registrou aumento de 12,4% em relação ao mesmo mês no ano passado. Em agosto, que foi a última medição da Associação, a pesquisa aponta um aumento de 4,4% ante o mesmo mês de 2019, representando uma queda de 8%. A pesquisa é um comparativo com o mesmo período do ano anterior. 

O presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Gilberto Soares, atribui essa queda no volume de vendas devido ao excesso de compras por parte dos consumidores no início da pandemia. “No início da pandemia houve clientes estocando os alimentos, tipo arroz, e depois estabilizou. Após esse período, muitos perceberam que não havia mais essa necessidade, porque os alimentos perderiam, além de ter diminuído o medo dos produtos não serem comercializados”, diz.

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Outro fator que influenciou na queda foi em relação ao preço dos produtos que compõem a cesta básica. “Isso aí tem alguns fatores. Primeiro foi o aumento acentuado no preço do arroz, carne bovina e demais produtos que compõem a cesta básica em especial. Houve produtos que os consumidores passaram a utilizar como batata, massas e outros mais em conta. Isso influencia na queda na venda dos produtos industrializados”, afirma o presidente da Agos. 

O economista e professor doutor da Universidade Federal de Goiás (UFG) Edson Roberto Vieira também acredita que a inflação influenciou na queda do volume de vendas dos supermercados. “O preço dos alimentos está puxando diretamente o volume de vendas nos supermercados. A variação dos preços no Brasil é uma das principais causas dessa queda que ocorreu em agosto em comparação com o mês de março”, diz. 

O presidente da Agos salienta que, em decorrência da alta da inflação, os consumidores repensaram na hora das compras dos produtos, substituindo por outros que cabem no orçamento familiar. “Quando vão ao supermercado e percebem o preço elevado de acordo com o rendimento familiar, os consumidores substituem marcas ou deixam de comprar determinados produtos”, alerta.

O professor explica o aumento dos preços dos alimentos. O primeiro fator é em relação ao consumo nas residências. “O consumo dos alimentos dentro de casa tem aumentado por causa das medidas de distanciamento social”. O segundo é a questão externa. Para o especialista, o dólar e as exportações influenciaram para esse aumento dos preços. “Outros produtos que já havia a tradição de exportar, mas agora acentuaram essa transição de vendas”, explica. 

Auxílio emergencial

Gilberto conta que o auxílio emergencial contribuiu para o aumento no consumo de vendas dos supermercados. “As pessoas recorreram aos supermercados e fizeram os reforços de suas dispensas”, diz. Vieira também concorda que a ajuda vinda do Governo Federal contribuiu para o aumento das vendas nos supermercados. “No Estado de Goiás e no Brasil temos em média entre 43% e 44% dos domicílios recebendo algum tipo de auxílio emergencial. Esse auxílio foi fundamental e essas pessoas de baixa renda poupam pouco e quase todo esse dinheiro para o consumo. E a maior parte dessa verba é para consumo ambiente”. 

A dona de casa Francisca Cardoso, de 54 anos, percebe o reflexo da queda do volume das vendas nos supermercados. Moradora da Capital há 30 anos, ela conta que em março houve uma crescente movimentação nos estabelecimentos, o que estabilizou em meados de novembro. “Além do medo de não ter produtos nos supermercados, as pessoas ficaram mais em casa, o que levou a estocarem produtos. Com o passar do tempo, elas perceberam que não precisava disso e voltaram para a rotina”.

O Procon Goiânia constatou que houve um aumento de 2,93% no valor de alimentos que compõem a cesta básica. O valor integral da cesta passou de, em média, R$ 495,77 em outubro para R$ 510,30 neste mês. A pesquisa foi realizada entre os dias 03 a 10 de novembro. O Procon visitou 10 supermercados.

O estudo registrou uma grande variação no preço de certos produtos de um supermercado para outro. O quilo da batata inglesa custava em média R$ 2,98 a R$ 4,99 em outubro e neste mês, está sendo vendido entre R$ 2,98 até R$ 6,99, o que corresponde uma variação de 134,56%.

Em seguida aparece a banana nanica, com uma variação de 127,85% no preço médio.  Em outubro, o quilo era encontrado de R$ 3,59 até R$ 4,34. Neste mês, o quilo varia de R$ 2,19 a R$ 4,99. A banana prata teve um reajuste de 114,87 %. Em média, o quilo custava R$ 3,07 a R$ 4,42 em outubro. Neste mês, o produto está sendo vendido a R$ 1,95 até R$ 4,19.

O arroz alcançou uma variação de 10,97%. O menor preço encontrado foi de R$ 22,89 e o maior R$ 25,40.  Já o açúcar teve um aumento de 15,51%. Em outubro, custava em média R$ 9,98 até R$ 10,99. Neste mês, passou para R$ 10,38 a R$ 11,99. O leite apresentou um reajuste de 20,07%. No mês passado, era encontrado de R$ 3,59 até R$ 4,99. Neste mês, custa em torno de R$ 2,99 até R$ 3,59.

A queda de 0,4% nas vendas do varejo no segmento de supermercados, na passagem de agosto para setembro, foi marcada pelo impacto negativo da pressão da inflação de alimentos, segundo Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  

Estudo mostra aumento da compra pela internet  

Um estudo elaborado pela empresa de benefícios Ticket mostra que houve um aumento da compra de itens de supermercados pela internet durante os meses de isolamento social por conta da pandemia da Covid-19. A companhia fez um levantamento com 12 mil usuários do Ticket Alimentação em todo o País, e mais da metade destas pessoas passaram a fazer compras em mercados pelos canais digitais.

Ainda segundo a empresa, há um bom potencial de crescimento para as compras de itens básicos pela internet. Isso porque dos usuários ouvidos pela pesquisa, 66% afirmam que fazem compras on-line de maneira geral, mas somente 34% fazem isso em supermercados.

A mudança na dinâmica do trabalho, com a introdução do home office pelas empresas durante o período de isolamento social, trouxe impactos imediatos à rotina de compras dos trabalhadores também nos aspectos relacionados à sua alimentação e nutrição, afirma Felipe Gomes, diretor-geral da Ticket.

E o hábito de fazer compras em supermercados on-line não deve ser deixado de lado pela grande maioria das pessoas que o adotaram. Dos usuários ouvidos pela Ticket, 10% afirmam que não pretendem manter este tipo de compra pelas vias digitais. Por outro lado, 52% garantem que vão continuar comprando em supermercados pela internet. Entre as pessoas que mudaram a forma de adquirir alimentos em mercados por conta da pandemia, 48% disseram ter aderido às compras on-line e 27% aumentaram a frequência de consumo por vias digitais. (Especial para O Hoje)

 

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