Mais de 9 mil alunos da zona rural de Goiás estudam em casa

Por iniciativa de professores, ações de reaproximação destes estudantes à escola se multiplicam | Foto: Wesley Costa

Postado em: 30-11-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Por iniciativa de professores, ações de reaproximação destes estudantes à escola se multiplicam | Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Goiás possui 8.997 alunos da rede estadual matriculados em escolas de campo. Além destes, que residem em locais distantes das escolas estaduais dos municípios, muitos estudantes das zonas rurais próximas aos centros urbanos estão matriculados em unidades localizadas dentro dos municípios. Parte deles, não possui acesso à internet e desde o início da pandemia, profissionais da educação têm se mobilizado para desenvolver o ensino para estas pessoas.

Preocupados com ensino de crianças na zona rural, professores da rede estadual de ensino do município de Mineiros, na região Sudoeste do Estado, tiveram a iniciativa de levar conteúdo aos alunos que não estão conseguindo acessar aulas de forma remota durante a pandemia do Coronavírus. O projeto chamado, “Caminho da Roça” atende 140 alunos da zona rural matriculados no Colégio Estadual Alice Pereira Alves.

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A assessoria da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) afirma que dá total autonomia para que cada escola adote as medidas que mais se adéquem ao desenvolvimento do ensino em cada região do Estado e informa que existem várias ações semelhantes ao “Caminho da Roça”, com professores se deslocando até zonas rurais e assentamentos para realizar ações de desenvolvimento de ensino e distribuição de material escolar.

Desde março todas as escolas da zona rural foram incluídas no grupo de unidades que aderiram ao regime especial de ensino remoto. Para as comunidades sem acesso à internet, os alunos recebem conteúdo didático e listas de atividades. Algumas das unidades escolares, por exemplo, têm enviado materiais impressos a farmácias e supermercados para que estes sejam recolhidos, posteriormente, pelas famílias.

Mineiros

Os professores do Colégio Estadual Alice Pereira Alves, Marcelo Máximo, Vanessa Alves e Sonellaine de Carvalho integram o projeto “Caminho da Roça” que leva o ensino presencial aos estudantes que não tem qualquer contato com a internet. O professor Marcelo conta que em algumas dessas propriedades falta até energia elétrica.

A implantação do projeto é uma necessidade que foi observada e apoiada pela gestora do colégio, Maria de Fátima Martini. A escola localizada dentro do perímetro urbano do município possui 140 alunos matriculados, oriundos de 17 linhas rurais de Mineiros. O colégio Alice é a única unidade escolar da rede estadual de ensino que atende os estudantes de fazendas no município.

Os professores Marcelo, Vanessa e Sonellaine vão até as residências localizadas na zona rural do município a cada 15 dias. Eles usam um carro próprio para se deslocarem até as moradias e ministram aulas embaixo de árvores ou varandas para desenvolver o ensino e a aprendizagem de forma presencial para os estudantes.

Professor Marcelo ainda afirma que as lições são ministradas sempre em ambiente aberto e com responsabilidade total ao cumprimento aos protocolos de segurança e proteção contra a Covid-19. Ele ainda diz que leva máscaras, álcool em gel para alunos e pais de alunos. Além disso, os equipamentos são utilizados durante todo o período de aprendizado com os professores.

Desta forma, o desenvolvimento do projeto se tornou viável e está realizando a reaproximação da escola aos alunos de áreas rurais, que, desde o início da pandemia, estavam recebendo apenas as atividades impressas, levadas em transporte feito por ônibus. A professora Vanessa diz que “somente o material impresso não era suficiente para a boa aprendizagem do aluno, então a proximidade com os professores ajuda muito”.

Ela é formada em Pedagogia e História, com especialização na área de Libras – Educação Especial e declara que as atividades buscam sanar as dificuldades enfrentadas pelos estudantes e dinamizar o ensino. Vanessa ainda afirma que a reação de cada aluno é gratificante e que reconhece no olhar de cada um, a gratidão pelo professor estarem se deslocando até suas casas.

Deslocamento até zonas rurais requer preparação 

O deslocamento dos profissionais de educação até as áreas rurais necessita de organização. Para desenvolverem as aulas com as crianças, os professores precisam dedicar um tempo para fazer uma espécie de “check-in”, com a listagem de tudo que usarão durante as atividades. Nada pode ficar para trás, quadros de lousa, pincéis, livros didáticos, portfólios e todos os equipamentos necessários para aos cuidados sanitários que o período de pandemia requer.

No caso do quadro portátil, o professor Marcelo Máximo relata que o objeto viaja apoiado nas cabeças dos educadores durante todo o trajeto.  A bagagem de alimentação também tem lugar garantido. Eles afirmam que as marmitas são levadas, mas as famílias dos alunos sempre oferecem almoço que eles preparam, inclusive o café da manhã.

O preparo das lições geralmente antecede à chegada de estudantes que residem próximo à fazenda escolhida para a realização das atividades de ensino. Alunos que fazem o trajeto a pé ou a cavalo, na sua maioria, se reúnem obedecendo às medidas de segurança contra o Coronavírus.

Marcelo afirma que o conteúdo das aulas é composto por revisão de conteúdos das disciplinas de português, matemática, física e redação. O professor acredita que o Projeto ‘Caminho da Roça’ se tornou um marco para o desenvolvimento da educação no município de Mineiros, principalmente no momento de pandemia, quando novas ações e abordagens de ensino ganham destaque.

“Posso dizer que tenho evoluído muito, pois estamos desenvolvendo algo novo, reconhecendo dificuldades, intervindo e conhecendo a vida de nossos alunos e suas famílias”, declara. Marcelo ainda diz que os pais dos estudantes afirmam que estão muito felizes com o projeto e chegam a afirmar que a educação pode conceder aos seus filhos os que eles (os pais) nunca conseguiram alcançar em suas vidas. (Especial para O Hoje) 

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