Investimento estrangeiro sofre tombo de 73,5% em setembro

Em setembro, nas estatísticas do Banco Central (BC), a queda chegou a 73,5% na comparação com o mesmo mês de 2019. - Foto: Reprodução

Postado em: 24-10-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Em setembro, nas estatísticas do Banco Central (BC), a queda chegou a 73,5% na comparação com o mesmo mês de 2019. - Foto: Reprodução

Lauro Veiga 

As
perspectivas ainda muito negativas para a economia continuam empurrando para
baixo o investimento direto no País. Em setembro, nas estatísticas do Banco
Central (BC), a queda chegou a 73,5% na comparação com o mesmo mês de 2019, com
o investimento baixando de US$ 6,033 bilhões para US$ 1,597 bilhões, no menor
valor para o mês desde setembro de 2005, quando havia alcançado apenas US$
95,013 milhões. No acumulado dos primeiros nove meses deste ano, o BC registra
a entrada de US$ 28,554 bilhões, correspondendo a uma redução de 45,1% em
relação aos US$ 52,032 bilhões investidos aqui dentro mesmos meses do ano
passado.

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A
perda foi mais intensa no investimento em participação no capital, quando
investidores de fora compram participação em empresas aqui dentro ou destinam
recursos para reforçar sua fatia em negócios já controlados por capital
estrangeiro no mercado brasileiro. Nessa conta, o investimento desabou de US$
9,340 bilhões em setembro do ano passado para US$ 1,583 bilhão em igual mês
deste ano, num tombo de 83,1%. Entre janeiro e setembro, o investimento
estrangeiro em participação no capital encolheu de US$ 55,553 bilhões em 2019
para US$ 20,300 bilhões neste ano, ou seja, uma retração de praticamente 63,5%.

A
saída de dólares dos mercados de ações e títulos manteve-se acelerada no
período, como também mostram os números do BC. Se no ano passado já havia sido
registrada um saldo negativo de US$ 1,712 bilhão na movimentação de recursos
naqueles mercados, neste ano, a fuga ampliou-se para US$ 24,258 bilhões, ou
seja, 14,2 vezes mais, com investidores e especuladores buscando outras
paragens para estacionar seus dólares. O mercado de câmbio financeiro registrou
um fluxo negativo de US$ 52,250 bilhões, o que significa dizer que muito mais
dólares deixaram o País em comparação com as entradas da moeda no segmento
financeiro. Foi quase o dobro (98,7% a mais) do que o saldo negativo de US$
26,280 bilhões registrado de janeiro a setembro de 2019.

Efeitos
da crise

Esses
números parecem sugerir um cenário bastante negativo para as contas externas do
País, numa tendência reforçada pelo fato de governo e empresas terem conseguido
renovar apenas 28% das obrigações externas de curto e de longo prazo vencidas
em setembro (dito de outra forma, em torno de 72,0% daqueles compromissos
tiveram que ser pagos no mês). No ano, até setembro, a chamada “taxa de
rolagem” (quer dizer, o percentual de empréstimos e outras dívidas em dólares
que foi adiado para mais adiante) atingiu 76,0% (ou seja, 24% dos compromissos
vencidos no período não puderam ser jogados para frente e foram pagos). Na
verdade, os dados podem não ser tão ruins quanto aparentam e, sob certo
aspecto, tem ocorrido até mesmo certa melhora. Deve-se registrar, no entanto,
que muito dos “avanços” registrados estão diretamente relacionados à crise
econômica detonada desde a chegada da pandemia no País e, portanto, a avaliação
desses números requer uma dose adicional de cautela.

Balanço

·  
A
conta de transações correntes, que resume as relações do Brasil com o restante
do mundo, tem registrado desempenho como não se observava desde 2006,
acumulando uma sequência de seis meses de saldos positivos. Essa conta inclui
exportações e importações de bens e mercadorias, despesas com serviços em
geral, a exemplo de gastos com viagens internacionais, fretes, pagamento de
royalties por uso de tecnologias importadas, aluguel de equipamentos, e ainda
remessas de lucros e dividendos, entre outros itens.

·  
Entre
abril e setembro deste ano, o saldo do País em transações correntes ficou
positivo em US$ 13,159 bilhões, o que se compara com um déficit de US$ 21,753
bilhões no mesmo período de 2019. Até aqui, foi a sequência mais longa de resultados
positivos desde 2006, quando o saldo ficou positivo ao longo de 11 meses. No
ano, de qualquer forma, a conta acumula déficit de US$ 6,476 bilhões, mas isso
corresponde a uma retração de 82,4% diante do rombo de US$ 36,748 bilhões
acumulado nos nove meses iniciais de 2019.

·  
Nos
últimos meses, a contribuição do superávit comercial (exportações menos
importações de bens e mercadorias) tem sido decrescente, com impactos mais
expressivos trazidos pelas contas de serviços e de renda primária (neste último
caso, principalmente por conta da queda nas remessas de lucros e dividendos,
explicada pela retração do mercado, perda de faturamento e menores ganhos das
empresas, além de menor retorno ou prejuízos mesmo com ações nas Bolsas).

·  
O
saldo comercial cresceu 20,45% na comparação entre janeiro a setembro deste ano
e o mesmo intervalo de 2019, subindo de US$ 30,693 bilhões para US$ 36,969
bilhões. A “melhora” aqui demonstra um caráter “espúrio”, por assim dizer, já
que foi motivada muito mais pela redução de 13,7% nas importações (de US$
139,155 bilhões para US$ 120,078 bilhões). As exportações baixaram de US$
169,848 bilhões para US$ 157,047 bilhões, num recuo de 7,5%.

·  
Exportações
e importações parecem ter acelerado as perdas mais recentemente, como sugerem
as quedas de 9,1% e de 23,3% registradas na comparação de setembro deste ano e
o mesmo mês de 2019, respectivamente.

·  
O
déficit na conta de serviços baixou fortemente neste ano, saindo de US$ 25,593
bilhões nos nove meses iniciais do ano passado para US$ 15,350 bilhões,
encolhendo 40,0%. Nesta área, quase dois terços da redução observada deveram-se
ao tombo de praticamente 77,0% nas despesas líquidas com viagens internacionais
(quer dizer, já descontadas as receitas obtidas nesta área pelo Brasil). Os
brasileiros haviam dispendido US$ 8,802 bilhões no exterior em 2019 (janeiro a
setembro), entre viagens de negócios, turismo e outras, e reduziram aquele
valor para US$ 2,029 bilhões neste ano.

·  
As
remessas de lucros e dividendos para fora do País sofreram baixa de 43,7% em
nove meses, desabando de US$ 23,854 bilhões para US$ 13,420 bilhões.

 

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