Quinta-feira, 28 de março de 2024

Coluna

Importações de fertilizantes consomem quase US$ 30 bilhões entre 2010 e 2018

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 19 de setembro de 2019

A
conta das importações de matérias primas para a produção de fertilizantes e
adubos já deve superar largamente os US$ 30,0 bilhões nesta década, o que
apenas vai reforçar o tamanho da dependência brasileira nesta área. Os gastos
com rocha fosfática, cloreto de potássio e enxofre importados somaram US$
29,596 bilhões entre 2010 e o ano passado, nas estatísticas apuradas pelo Sindicato
Nacional da Indústria de Matérias Primas para Fertilizantes (Sinprifert),
equivalente a quase toda a exportação realizada pelo setor mineral em 2018 –
algo em torno de US$ 29,959 bilhões, dos quais perto de 68% vieram dos
embarques de minério de ferro. “A dependência do setor de fertilizantes em
relação a importações tem impacto direto na balança comercial brasileira e na
geração de divisas”, constata Rinaldo Mancin, diretor de assuntos ambientais do
Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

No
ano passado, considerando o mesmo grupo de matérias-primas, a alta nos preços
do cloreto de potássio e do enxofre, onde a dependência é mais ampla, elevou os
gastos com importações em pouco mais de 31%, de US$ 2,713 bilhões para US$
3,556 bilhões, já incluindo as compras de rocha fosfática na conta. Os volumes
importados avançaram 9,2% na mesma comparação, saindo de 13,479 milhões para
quase 14,715 milhões de toneladas.

“O
atual regime de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre
fertilizantes favorece a importação e desestimula a produção nacional. A falta
de isonomia tributária é um dos principais entraves para o crescimento da produção
nacional de fertilizantes”, reclama Bernardo Silva, diretor executivo doSinprifert.
Nas estimativas de Mancin, a carga tributária total sobre fertilizantes
produzidos no país varia em torno de 30%, “atingindo 41% no caso do potássio,
enquanto a importação chega ao país sem impostos”.

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Maior dependência

A
partir de 2011, quando alcançou seu nível mais elevado em termos históricos,
lembra Matheus Almeida, analista sênior do Rabobank, a produção de
fertilizantes compostos tem recuado, saindo de 9,777 milhões para 8,169 milhões
de toneladas no ano passado, numa queda de 16,4%, enquanto os volumes
importados saltaram pouco mais de 40% no período, de 19,591 milhões para 27,496
milhões de toneladas. O consumo igualmente avançou, chegando a um recorde de
35,507 milhões de toneladas no ano passado, num avanço de praticamente 25%
desde 2011. A participação das importações na demanda, medida pelo volume de
fertilizantes entregues ao consumidor final, avançou de 62,3% em 2010 para
77,4% em 2018.

Balanço

·  
Para este ano,
estima Almeida, a produção tende a crescer modestamente para 8,188 milhões de
toneladas, com importações acima de 27,3 milhões de toneladas e uma demanda ao
redor de 36,0 milhões de toneladas, perto de 1,4% acima dos números de 2018, em
novo recorde.

·  
Dados ainda preliminares
divulgados por consultorias especializadas indicam que as entregas deverão se
situar entre 36,3 milhões e 36,7 milhões de toneladas, representando aumento
entre 2,0% a 3,0%. Caso se confirmem as projeções para as compras externas, a
dependência do mercado tende a se manter próxima de 75%.

·  
O setor de
fosfato apresenta perspectivas mais promissoras, conforme números do Ministério
de Minas e Energia (MME), embora a produção de rocha fosfática tenha recuado
nos últimos anos, baixando de quase 6,1 milhões em 2011 e 2012 para pouco menos
de 5,1 milhões de toneladas em 2018, conforme dados da Associação Nacional para
Difusão de Adubos (Anda), trabalhados pelo Sinprifert.

·  
Mesmo em baixa, a
produção responderia por 73% da demanda total, de acordo com dados oficiais. As
reservas identificadas de fosfatosubiram fortemente entre 2015 e 2017, saltando
de 315,0 milhões para 1,70 bilhão de toneladas, segundo o MME, o que colocaria
o Brasil entre as quatro maiores reservas do mundo, à frente dos Estados
Unidos.

·  
Essa evolução
sugere algum avanço da produção de rocha e, portanto, de fertilizantes
fosfatados mais à frente. Por enquanto, considerando o produto final, a oferta
doméstica cobre apenas 37% da demanda, mas alguns projetos, com destaque para o
da Yara Fertilizantes, poderão ampliar essa participação.

·  
Com reservas para
os próximos 20 anos, o complexo mineral e industrial de Serra do Salitre, em
Minas Gerais, tocado pela Yara, deverá atingir plena capacidade por volta de
2021, num investimento total próximo de R$ 2,6 bilhões, eterá capacidade para 1,2 milhão de toneladas
de concentrado fosfático.

Em Catalão, a CMOC Internacional planeja
investir US$ 308,0 milhões na construção de unidades de ácido fosfórico e ácido
sulfúrico e na modernização da planta de concentração de fosfato.