Coluna

USDA corta previsão para estoques de soja e milho. Teria sido erro de cálculo?

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 11 de outubro de 2019

As cotações da soja e do milho na Bolsa de Chicago, referência na formação de preços de grãos no mercado global, tinham desabado entre meados de junho e os primeiros dias de setembro, com quedas que variaram entre 8,0% a 9,0% para a oleaginosa e perdas entre 22,5% a 23,5% para o segundo, respectivamente nos contratos com vencimento em março de 2020 e dezembro deste ano. À medida em que foram se confirmando prognósticos menos favoráveis para a safra 2019/20, com a colheita muito atrasada nas duas culturas, os preços chegaram a se recuperar, mas não haviam retomado os níveis anteriores. Até ontem, pelo menos.

As revisões perpetradas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), muito especialmente no caso norte-americano, podem ainda alterar aquele cenário, trazendo algum alívio para os produtores daquele país, que já enfrentam perdas importantes na comparação com a safra 2018/19. Não deixa de ser intrigante que as revisões frequentemente realizadas pelo USDA ocorram de forma mais intensa justamente no momento em que a safra norte-americana começa a entrar no mercado.

Desta vez, os “ajustes” vieram com vigor, superando a expectativa dos mercados. Em setembro, o departamento havia estimado a produção de milho e soja nos EUA em 350,52 milhões e 120,52 milhões de toneladas respectivamente, numa redução de 4,3% para o milho e até algum avanço para a soja (na verdade, projetava-se uma variação inferior a 0,4%, o que pode ser descrito como “estabilidade”). A despeito de problemas climáticos na fase da semeadura, gerando atrasos no plantio. Os números esperados para os estoques finais de milho até apontavam algum avanço (mais 3,6% frente à safra 2018/19). Para a soja, no entanto, a estimativa era de um tombo mesmo de quase 30% nos estoques finais, de 24,85 milhões no ciclo 2018/19 para 17,43 milhões de toneladas.

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Entre setembro e outubro, o mercado traduziu as previsões do USDA em aumentos na faixa de 7% a 8% para os preços da soja e do milho, o que amenizou as perdas, mas não anulou o tombo verificado nos três meses anteriores.

“Ajustes”

As estimativas divulgadas ontem pelo USDA mantiveram praticamente inalterada a produção de milho, frente aos números de setembro, com uma previsão de 350,01 milhões de toneladas (510 mil toneladas a menos), e corrigiram o prognóstico para a soja de 98,87 milhões para 96,62 milhões de toneladas, numa redução de 2,3% (2,25 milhões de toneladas a menos). Os estoques finais no ciclo 2019/20, no entanto, sofreram baixas importantes, com corte de 6,63 milhões de toneladas nas reservas de milho (de 55,62 milhões para 48,99 milhões de toneladas, numa baixa de 11,9%). O corte nos estoques da soja foi ainda mais severo, proporcionalmente, atingindo 28,2% (de 17,43 milhões para 12,52 milhões de toneladas, ou 4,91 milhões de toneladas a menos).

Balanço

· Na comparação com a safra 2018/19, a produção de milho nos EUA tende a ser 4,4% menor, significando 16,28 milhões de toneladas a menos (366,29 milhões para 350,01 milhões de toneladas), enquanto os estoques deverão recuar 8,8% (saindo de 53,71 milhões de toneladas, volume 4,72 milhões de toneladas mais alto do que a projeção mais recente do USDA).

· A produção de soja, comparando os ciclos 2018/19 e 2019/20, poderá encolher 19,8%, com perdas de 28,90 milhões de toneladas. Os estoques cairiam quase 50%, de 24,85 milhões para 12,52 milhões de toneladas.

· As próximas estimativas ainda poderão trazer ajustes, já que a colheita continua muito atrasada e as condições das lavouras de milho e soja são piores do que na safra passada. Até o dia 6 de outubro deste ano, apenas 15% do milho e 14% da soja já haviam sido colhidos, o que se compara com 33% e 31%, pela ordem, na safra 2018/19.

· Na média das últimas cinco safras, até a primeira semana de outubro, os produtores norte-americanos já haviam colhido 27% do milho e 34% da soja.

· Além disso, no mesmo período do ano passado, 68% das lavouras de milho e soja encontravam-se em boas ou excelentes condições, percentual reduzido neste ano para 56% no primeiro caso e para 53% no segundo.

· Praticamente todo o avanço projetado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em sua primeira estimativa para a safra brasileira de grãos no ciclo 2019/20 virá da soja. A companhia estima o cultivo de 61,320 milhões de hectares, diante de 60,607 milhões na safra passada – o que representaria avanço de 1,2% (713,3 mil hectares a mais), não incluindo as culturas tipicamente de inverno (aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale).

· Desse acréscimo, quase 98% virão da soja, que deve elevar sua área de 35,874 milhões para 36,571 milhões de hectares. A área esperada para o milho deve ser praticamente a mesma, com ligeira variação de 17,496 milhões para 17,538 milhões de hectares.

· A produção deve variar de 235,38 milhões para 239,24 milhões de toneladas, novo recorde assegurado novamente pela soja, praticamente a única cultura a experimentar avanços, saindo de 115,03 milhões para 120,39 milhões de toneladas.

· Uma redução de quase 2,0% na produtividade do milho deverá derrubar ligeiramente a produção esperada de 100,05 milhões para 98,40 milhões de toneladas (1,7% a menos).