Cresce o número de brasileiros que realizam trabalho voluntário

Cerca 7,4 milhões de brasileiros realizaram trabalho voluntário, o equivalente a 4,4% da população de 14 anos ou mais

Postado em: 27-10-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Cerca 7,4 milhões de brasileiros realizaram trabalho voluntário, o equivalente a 4,4% da população de 14 anos ou mais

Raunner Vinícius Soares*

O Número de brasileiros que realizam trabalho voluntário cresceu, no ano passado, no Brasil. O aumento representa cerca de 7,4 milhões de pessoas que se dedicaram a esse tipo de atividade no País, o equivalente a 4,4% da população de 14 anos ou mais de idade. O aumento foi de 12,9% em comparação a 2016. A pesquisa Outras Formas de Trabalho 2017, é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Os dados são baseados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), da mesma instituição, que considera trabalho voluntário aquele não compulsório, realizado por pelo menos uma hora na semana, sem receber remuneração ou benefícios em troca, e realizado em apoio a pessoas que não moram no mesmo domicílio do entrevistado e não são de sua família.

De acordo com a pesquisa, o perfil dos voluntários no país é prioritariamente de mulheres que têm uma série de atividades extras, além de trabalho e afazeres domésticos. Os que desenvolviam atividades voluntárias em 2017 eram 5,1% das mulheres e 3,5% dos homens, fato observado em todas as grandes regiões.

A exemplo disso, a estudante universitária, Sacha de Souza Araujo, de 20 anos, que mesmo estudando na parte da noite e trabalhando na empresa do pai pela manhã, presta serviço voluntário num projeto que ela criou. “O propósito do meu projeto é levar alimentos (cestas básicas), roupas (para adultos e crianças) famílias. O nome do projeto, inclusive, é Ajudando Famílias, que também visa levar a palavra de Deus através da bíblia e fazer orações”, explica a jovem.

O Projeto Ajudando Famílias que tem uma página no Instagram, onde mostra suas ações solidárias, foi idealizado na verdade, por uma amiga da Sacha que viu o Projeto como uma missão, um propósito de vida. “Não tive a ideia sozinha, foi uma amiga minha que juntamente comigo ajudou a começar e hoje eu levei esse projeto para fazer parte da minha Igreja”, pontua Sacha.

De acordo com ela, a rotina é bem pesada. “Então, acordo às 6h50, de segunda a sexta. Trabalho das 8h às 13h. À tarde estudo, e como moro próximo a Goiânia eu utilizo o transporte que a prefeitura da minha cidade fornece e saio de casa para ir à faculdade, às 17h. No período da noite estou na faculdade e chego em casa às 23h e durmo às 0h”, explica a estudante.

A estudante universitária diz que o voluntariado é motivado pela solidariedade, compaixão pelo meu próximo. “Eu acredito em Deus, e sirvo ele da forma que ele me predestinou, e o voluntariado foi uma das formas que ele colocou em minha vida, e uma das manifestações do amor de Jesus é o amor ao seu próximo”, afirma Sacha.

Ela acredita que tem uma missão, que é ajudar as pessoas que precisam de ajuda tanto no lado material, quanto espiritual. “Tenho satisfação em poder contribuir na vida de alguém, tanto de forma material, quanto espiritual. Creio que a minha missão é servir, e estou no caminho certo, e encontro prazer em poder ajudar, não só materialmente, mas espiritualmente”, pontua a estudante universitária.

Em uma das ações que a equipe do jornal hoje acompanhou, no dia 24 de outubro (aniversário de Goiânia), foi a entrega de cestas básicas na cidade de Nova Fátima para famílias em estado de vulnerabilidade socioeconômica. Uma das pessoas que receberam roupas e alimentos foi Donaldson Camargo, de 64 anos. Segundo ele, a esposa morreu de câncer há três anos e meio deixando três filhos, um menino que hoje tem 5 anos, uma menina de 7 e outra de 8.

Donaldson tem hérnia de disco e não pode trabalhar. “Estou com uma dor insuportável nas costas”, afirma. O idoso tira o sustenta do programa governamental que visa auxiliar pessoas nesta situação, cerca de R$ 212, que segundo ele, é muito pouco para sustentar toda sua família, numa casa mal terminada, com tijolos a mostra e o quintal tomado pela lama, porque não é cimentado.

O outro beneficiado pelo Projeto Ajudando Famílias é o Raimundo Nonato dos Santos, de 46 anos, tem dois filhos e uma esposa. De acordo com o Raimundo, apenas a esposa, Sandra dos Santos, recebe os R$ 80 do governo e tem que sustentar a família fazendo “bicos” e o dinheiro total arrecadado não consegue suprir as contas.   

Pesquisa do IBGE

Para analisar a intensidade do trabalho voluntário, o IBGE considera a média de horas despendidas na semana em tais atividades. Em 2017, a média foi de 6,3 horas semanais, inferior às 6,7 horas constatadas no ano anterior. A região com maior média de horas foi a Norte (7,1 horas) e a com menor média, a Sudeste (6 horas). A única região com aumento da dedicação ao trabalho voluntário foi a Sul. A região Norte ficou estável e as demais tiveram queda.

A quantidade de horas dedicadas ao trabalho voluntário é equivalente entre os homens e as mulheres que realizam esse tipo de atividade. A dedicação ao trabalho voluntário é maior entre os que têm uma ocupação (4,7% do total) do que entre os não ocupados (3,9%).

Em relação à idade, a participação nessas atividades é maior entre as pessoas mais velhas: em 2017, 2,9% dos que têm 14 a 24 anos faziam trabalho voluntário; a proporção sobe para 4,6% entre os de 25 a 49 anos; e para 5,1% entre os que têm 50 anos ou mais. Nas regiões Norte e Nordeste, no entanto, a maior taxa foi a do grupo de pessoas de 25 a 49 anos de idade (6,9% e 3,6%, respectivamente). 

Solidariedade também é praticada com os animais  

Lívia Maria Borges Calassa, de 51 anos, professora, graduada em letras, especialista em literatura brasileira e portuguesa, mantém uma espécie de projeto pessoal em Goiânia para acolher e direcionar animais abandonados.

Lívia relata que o projeto é sem administração, sem idealização, algo que não se deu conta que estava fazendo, “o projeto sou eu”. “Há cinco anos eu passei a morar em um sítio, e me veio um amor muito grande aos animais. Nunca gostei de gatos, o meu afeto era sempre direcionado para cães, mas nunca tinha tido também, porque morava em um apartamento. Então, eu ganhei uma gata de uma aluna, e as coisas foram tomando uma proporção que eu não dava conta de parar. Todos os gatos que via na rua, todos os cachorros, eu recolhia”, afirma a professora.

“Se me perguntar, ‘você já colocou no papel quanto gasta?’, ou ‘você já se perguntou o que pretende com isso?’ Eu não tenho tempo. Não era para ser dessa forma, porque agora o meu casamento está por um ‘tris’, as dívidas são inúmeras. Por mais que eu trabalhe, não há dinheiro que sustente minhas necessidades de ajudar. Não dou conta de me entender, por mais que esteja endividada, quando vejo um animal em situação de vulnerabilidade tenho que ajudar”, se emociona.

A protetora retira o animal da rua, cuida, leva para a clínica, e gasta do próprio salário com cirurgia, castração, vermificação e vacinação, porque só assim é possível que este animal seja adotado. Alguns animais o afeto foi maior então acabou ficando com eles. “Não consigo me organizar, todos os meus ganhos são direcionados para os animais. E infelizmente meu marido, por melhor marido que seja, ele não consegue gostar de animais”, admite Lívia.

Lívia conta com a colaboração de vários protetores para recolher estes animais de rua, mesmo que segundo ela, tem vontade de levar todos para a casa, porém, dado que já possui muitos animais o seu marido a proibiu. “Como eu não posso trazer os animais para casa, eu tenho amigas que ficam com pena e leva os animais para a própria casa. Eu tenho animais em muitas casas de amigos do meu setor”, pontua.

Segundo a professora, todos estes protetores estão muito endividados também, virou uma compulsão. “A minha avó de cerca de 90 anos me chama de São Francisco, mas acontece que fico dividida nessa classificação. Não sei se eu sou louca, ou boa, porque para mim a bondade, a caridade, é uma necessidade”, com a voz enrouquecida. (Raunner Vinicius Soares é estagiário do jornal O Hoje sob orientação do editor de Cidades Rhudy Crysthian) 

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